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Notícia do deputado Carlos Bordalo

As informações contidas nesta seção são de responsabilidade da assessoria do próprio deputado.

19/12/2024 | 10h23 - Atualizada em 19/12/2024 | 10h22

Projeto de Lei busca reconhecer as letras de barcos e os abridores de letras como Patrimônio Cultural Imaterial do Pará

Reportagem: Thais Peniche

Edição: Carlos Bordalo

Crédito: Créditos/Divulgação: Nailana Thiely

Navegar pelos rios amazônicos é se deparar com embarcações que carregam originalidade e uma forte identidade com letras vibrantes que simbolizam a história e a cultura local. O Projeto de Lei (PL), de autoria do deputado Bordalo (PT), apresentado nesta quarta-feira (18), na Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA), quer transformar esse saber popular em Patrimônio Cultural Imaterial do Pará.

A proposição busca declarar e reconhecer como patrimônio cultural imaterial o saber tradicional dos(as) Abridores(as) de Letra dos municípios ribeirinhos do Estado do Pará, bem como as letras de barco, expressão singular e resultado dessa prática artesanal e culturalmente enraizada.


  • QUEM SÃO OS ABRIDORES DE LETRAS E O QUE SÃO AS LETRAS DE BARCO?

Os abridores de letras são artistas populares que dominam a técnica artesanal de pintar nomes e frases em barcos da região amazônica. Essa prática vai além de uma simples decoração: é uma expressão cultural rica em história, criatividade e simbolismo.  

As letras de barco são tipicamente vibrantes, feitas à mão, e frequentemente acompanhadas de desenhos ou enfeites que representam identidades locais. Os nomes pintados carregam sentidos diversos, muitas vezes homenageando entes queridos, santos ou elementos da natureza, como “Deus Proverá” ou “Capitão do Mar”.

Essa arte surgiu há décadas nas comunidades ribeirinhas, que dependiam dos barcos como principal meio de transporte e precisavam identificar suas embarcações devido às exigências da Capitania dos Portos, mas logo se transformou em uma manifestação artística única, marcada por criatividade e diversidade.  

PROCESSO CRIATIVO

Os abridores de letras utilizam pincéis, tintas e habilidades passadas de geração em geração, adaptando-se aos materiais e às demandas ao longo dos anos.  As letras de barco são uma forma de contar histórias da vida ribeirinha e destacar a relação dos povos da Amazônia com os rios, a cultura e a natureza. 

O PL registra que esses artistas são verdadeiros guardiões de saberes que têm sido transmitidos por gerações. Ser reconhecido como Patrimônio Cultural significa que um saber, prática ou tradição passa a ser oficialmente protegido e valorizado pelo Estado. 

Com isso os abridores de letras, muitas vezes desvalorizados, ganham visibilidade e respeito pelo seu trabalho como agentes culturais. Uma tradição, característica da região amazônica, não encontra paralelo em outras partes do Brasil ou do mundo, o que a torna um patrimônio exclusivo e digno de preservação.  

PRESERVAÇÃO 

No Pará, desde 2004, existe o projeto Letras que Flutuam, uma iniciativa dedicada a valorizar os artistas abridores de letras. O projeto realiza um mapeamento desses profissionais em diversos municípios ribeirinhos das regiões de Santarém, Marajó, Belém e Salgado, no estado do Pará. Este saber popular, que combina tradição e arte, vem sendo estudado pela pesquisadora Fernanda Martins, quando o tema foi abordado em sua monografia para a especialização no Instituto de Ciências da Arte (ICA) da Universidade Federal do Pará.

De acordo com o Projeto Letras que Flutuam, a iniciativa avançou para sua segunda etapa expandindo o mapeamento para a ilha do Marajó. O resultado foi o documentário Marajó das Letras, cuja pesquisa abrangeu os municípios de Curralinho, Breves, São Sebastião da Boa Vista, Ponta de Pedras, Salvaterra e Soure.

O filme apresenta artistas locais e suas histórias singulares. Rosemiro, conhecido como Miro Graffit, combina a pintura tradicional com pincel e técnicas mais modernas, como a pistola de pintura. Paulinho, um mestre veterano de Curralinho, chegou a fazer cursos por correspondência na década de 1970.Em Soure, Seu Castro, um dos mestres mais antigos da região, mantém um comércio repleto de obras pintadas por ele mesmo, mantendo viva a tradição e a identidade cultural do Marajó.

APROPRIAÇÃO

Em 2024 esse saber tradicional teve ampla repercussão nas redes sociais devido ao lançamento da coleção “Manifesto do afeto” , uma parceria entre um designer gráfico paulista e uma rede de lojas de departamento que utilizou nesta coleção uma série de símbolos, bordas e combinações de cores inspirada em letras amazônidas. Isso gerou comoção de pessoas apontando apropriação cultural do artista e da loja.

Nesse sentido, a justificativa do projeto enfatiza que essa arte singular já foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), reforçando sua relevância para a preservação da diversidade cultural brasileira.  

O reconhecimento cria mecanismos para que o saber dos abridores de letras seja documentado, ensinado e difundido. Isso ajuda a evitar que a prática desapareça diante de mudanças culturais ou econômicas.  

“O saber dos Abridores de Letra é muito mais do que uma técnica: é uma manifestação da alma ribeirinha, que dialoga com o cotidiano, os sonhos e as crenças locais”, destaca o deputado Bordalo.  

RECONHECIMENTO

O apoio legislativo reforça o compromisso com a diversidade cultural do Pará e a preservação de uma das heranças mais autênticas da região. “Ao garantir esse reconhecimento, incentivamos o orgulho das comunidades e fortalecemos a continuidade dessa arte tão singular”, conclui o parlamentar.  

O projeto de lei que busca tornar os saberes dos abridores de letras e as letras de barco Patrimônio Cultural Brasileiro não se limita apenas a preservar uma prática amazônica. Ele toca em algo mais profundo: a importância da preservação cultural como um reflexo da identidade de todo o Brasil. 

Reconhecer os saberes dos abridores de letras e as letras de barco como Patrimônio Cultural, não será apenas para preservar uma técnica artística, mas reforçar um compromisso com a preservação da diversidade cultural e com a valorização dos saberes tradicionais do povo paraense. 

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