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03/09/2020 | 09h54 - Atualizada em 03/09/2020 | 10h57

Lei que cria o Dia Estadual do Gari traz visibilidade à classe

Reportagem: Syanne Neno

Edição: Andreza Batalha

"Uma vez, eu estava varrendo a rua e uma senhora parou e disse: "Ah, minha filha, vá estudar para ser uma advogada, você é tão bonita". Na mesma hora olhei pra ela, sorri, e disse: "muito obrigada, senhora. Mas já estou quase concluindo o meu curso, e serei professora de Educação Física. As pessoas têm esse preconceito de achar que os garis são analfabetos e isso precisa ser mudado".

O desabafo é de Anne Caroline Tavares, 29 anos. Há 9 anos ela é agente de serviços urbanos (gari) concursada da Prefeitura Municipal de Belém. Incentivada por uma amiga, ela fez o concurso para ter uma estabilidade financeira e conseguir pagar o curso de Educação Física. Foi difícil Anne se acostumar com a invisibilidade da classe e o preconceito sofrido diariamente.  "As pessoas passam perto da gente e nos olham com pena, nojo, indiferença, dificilmente recebemos um bom dia. Mas mesmo assim, faço questão de passar por elas e cumprimentá-las",  revela a gari.

Reconhecimento - Mas a partir do Projeto de Lei 210/ 2016, essa realidade pode começar a ser transformada. O PL foi apresentado no ano de 2016, depois desarquivado e tramitado normalmente, para finalmente ser aprovado em  plenário no último mês de agosto.

 A Lei instituiu no Calendário Oficial de Eventos do Pará o Dia Estadual do Gari. A data será comemorada no dia 16 de maio de cada ano. O Dia Estadual do Gari tem como objetivo principal a valorização profissional dessa categoria frente à sociedade.

História - O nome Profissional de gari é em homenagem ao francês Pedro Aleixo Gari, que em 1876 assinou contrato com o Ministério dos Negócios do Império para executar os serviços de limpeza na cidade do Rio de Janeiro. Ele costumava reunir seus funcionários para limpar as ruas após a passagem de cavalos, o que era muito comum na época.

Os cariocas se acostumaram com esse trabalho e sempre mandavam chamar a "Turma do Gari" para executá-lo. Aos poucos o nome se generalizou e o Brasil inteiro passou a denominar esses trabalhadores dessa forma.

A aprovação dessa proposição em âmbito estadual é uma homenagem a esses profissionais paraenses, que trabalham para manter as ruas, praças e cidades limpas.

"Quando criamos esse projeto do Dia do Gari, a gente quis reconhecer todas aquelas pessoas que exercem essa profissão. Apesar de muitas vezes a atividade ser até mesmo marginalizada por algumas pessoas, ela é de fundamental importância para o desenvolvimento da saúde, do saneamento, de todos os benefícios para a nossa população.  Esse projeto é para reconhecer e resgatar essa profissão. Que ele seja o incentivo para que possamos criar políticas públicas voltadas para os garis e suas famílias. Precisamos melhorar as condições de trabalho desses profissionais", destaca o deputado Ozório Juvenil, autor do projeto.

"Com a aprovação dessa Lei, passamos a ter um reconhecimento. A Lei valoriza a nossa profissão diante da sociedade, mostrando a nossa importância, tanto no quesito limpeza, quanto na segurança e saúde da população", comemora Anne Tavares.

A gari paraense sabe que há ainda um caminho longo a ser percorrido em busca da valorização da classe, mas o Dia Estadual do Gari pode fazer com que a população comece a refletir.

"Tenho dois grandes sonhos: o primeiro é um dia poder ver a nossa classe valorizada, tanto na questão financeira quanto no respeito social. O segundo é conseguir ter o meu próprio espaço pra ministrar as minhas aulas de natação, hidroginástica e futsal. Poder levar qualidade de vida para a população, gerar empregos e criar um projeto social para aqueles que não têm condições de pagar ou acessar um espaço esportivo", revela a gari.

Hoje, se ela voltar a encontrar a senhora que um dia lhe parou na rua perguntando o porquê de não estudar para ser uma advogada, Anne já poderá dizer que é uma árbitra da Federação Paraense de Voleibol, atuando dentro da área com a qual sempre sonhou. Em breve, estará com o diploma de Educação Física nas mãos graças a seu trabalho como gari. Uma profissão pela qual aprendeu a ter muito orgulho.